Nasceu a 27 de Maio de 1862, em Vila Nova de Portimão.
Era filho de José Libânio Gomes e de Maria da Glória
Teixeira Gomes. O pai, além de proprietário abastado,
dedicava-se ao comércio de frutos secos em larga escala. Homem
muito viajado e instruído em França, onde assistiu à
revolução de 1848, advogava princípios republicanos,
chegando a ser cônsul da Bélgica no Algarve.
De Belmira das Neves, oriunda de famílias modestas de pescadores,
terá duas filhas.
Morreu em 18 de Outubro de 1941, em Bougie,
na Argélia.
ACTIVIDADE PROFISSIONAL
Foi educado pelos pais até entrar no Colégio de São Luís
Gonzaga em Portimão, onde estuda o ensino básico.
Aos 10 anos, como era uso nas famílias abastadas da época,
é enviado para o Seminário de Coimbra, tendo por condiscípulo
José Relvas.
Aos 15 anos, matricula-se na Faculdade de Medicina daquela cidade.
Desiste do curso, contrariando a vontade paterna, e instala-se em Lisboa
onde frequenta a Biblioteca Nacional e se torna amigo de João de
Deus e de Fialho de Almeida.
Após ter cumprido o serviço militar, vai viver para o
Porto, onde acamarada com Sampaio Bruno, Basílio Teles, Soares dos
Reis e outros. Com Joaquim Coimbra e Queirós Veloso publica
o jornal de teatro Gil Vicente, colaborando no Primeiro de Janeiro e na
Folha Nova.
Cansado da estúrdia, regressa a Portimão reconciliando-se
com a família.
Entretanto, em 1891, o pai formara, com outros sócios, uma sociedade
intitulada "Sindicato de Exportadores de Figos do Algarve", que durou três
anos. Manuel foi encarregado de encontrar mercados na França,
na Bélgica e na Holanda. Viaja então imenso, visita
a Europa, demorando-se na Itália. Alarga o seu campo cultural,
deambulando pela África do Norte e pela Ásia Menor.
Dissolvida a sociedade, pai e filho continuam o negócio agora
por conta própria. Em breve, o êxito motiva o alargamento
do mercado pelas novas áreas que, embora já reconhecidas
anteriormente, isto é, Norte de África e Próximo Oriente,
o obrigam a viajar nove meses por ano, regressando a Portugal só
para estar presente durante a campanha do figo.
A partir de 1895, estabelece novos contactos com os meios literários
de Lisboa. Por intermédio de Fialho de Almeida conhece Marcelino
Mesquita, Gomes Leal e outros. Alfredo Mesquita, Luís Osório
e António Nobre entusiasmam-no para a publicação da
sua primeira obra O Inventário de Junho, que aparece a público
em 1899.
Mais tranquilo, dispondo de mais tempo, pois a idade avançada
de seu pai obriga-o a estadas maiores em Portimão, publica Cartas
sem Moral Nenhuma e Agosto Azul, em 1904, Sabrina Freire, em 1905, Desenhos
e Anedotas de João de Deus, em 1907 e Gente Singular,
em 1909.
PERCURSO POLÍTICO
Democrata e republicano desde muito jovem, colaborou assiduamente no diário
A Luta de Brito Camacho, de quem também era amigo pessoal.
Após a implantação da República é
convidado para exercer o cargo de ministro de Portugal em Londres.
Em Abril de 1911, segue para a capital inglesa, apresentando credenciais
ao rei Jorge V, em 11 de Outubro.
Substituir o marquês de Soveral e enfrentar o facto de que a família
real portuguesa residia em solo inglês, não constituíam,
à partida, factores de bom augúrio para início de
carreira, mas Teixeira Gomes, através de uma acção
diplomática adequada, cedo soube grangear a simpatia, amizade e
a confiança das autoridades britânicas.
É de salientar a sua acção na problemática
das negociações anglo-germânicas acerca da divisão
das colónias portuguesas e a colaboração prestada
aos governos de Portugal, acerca da entrada de Portugal na Grande Guerra,
a ser solicitada pelo Estado inglês. Esta colaboração
custou-lhe o ódio dos sectores não guerristas, tais como
Brito Camacho, e a destituição do cargo durante o consulado
de Sidónio Pais.
Em 1919, depois da morte do caudilho, desempenha o cargo de ministro
de Portugal em Madrid, mas a breve trecho é reempossado nas suas
antigas funções em Londres.
Em 1922, é nomeado delegado de Portugal junto da Sociedade das
Nações, desempenhando as funções de um dos
seus vice-presidentes.
Em 6 de Agosto de 1923, é eleito Presidente da República,
cargo de que toma posse em 5 de Outubro do mesmo ano.
ELEIÇÕES E PERÍODO PRESIDENCIAL
Manuel Teixeira Gomes foi eleito Presidente Da República na
sessão do Congresso de 6 de Agosto de 1923, após um acto
eleitoral muito renhido, em que o resultado final só foi conhecido
ao fim do terceiro escrutínio.
Na primeira votação, com a presença de 197 congressistas,
foram escrutinados os resultados seguintes:
-
Teixeira Gomes 108 votos
-
Bernardino Machado 73 votos
-
Duarte Leite 3 votos
-
Augusto Soares 2 votos
-
Magalhães Lima 1 voto
-
Listas brancas 10
No segundo escrutínio, com a presença dos mesmos 197
congressistas, o resultado ficou assim traduzido:
-
Teixeira Gomes 114 votos
-
Bernardino Machado 71 votos
-
Augusto Soares 2 votos
-
Duarte Leite 1 voto
-
Listas brancas 9
Como nenhum dos candidatos tivesse obtido os dois terços de votos
exigidos pela Constituição, procedeu-se finalmente ao terceiro
escrutínio em que dos 195 congressistas presentes, 121 votaram em
Teixeira Gomes, somente 5 em Bernardino Machado e 68 votaram em
branco.
O novo Presidente da República tomou posse em 6 de Outubro desse
ano, depois de ter prestado juramento de fidelidade à Constituição,
perante o mesmo Congresso.
De início, com o objectivo de se inteirar dos problemas, pede
a António Maria da Silva para prosseguir no Governo, ao mesmo tempo
que convida Afonso Costa. Depois deste ter, finalmente, declinado
o convite, recomeçou a dança dos executivos.
O de Ginestal Machado dura um mês e três dias, o de Álvaro
de Castro, seis meses e dezanove dias, quatro meses e onze dias o de Alfredo
Rodrigues Gaspar, que terminará a 22 de Novembro de 1924, abrindo
uma crise geral que só terminará com a queda da I República.
Os dois meses e vinte e três dias de José Domingos dos Santos,
os quatro meses e meio de Vitorino Guimarães, os trinta e um dias
de António Maria da Silva, e os quatro meses e meio de Domingos
Pereira, só vêm confirmar o ambiente de perturbação
existente.
Perante o quadro de efervescência política, social e militar,
se nos lembrarmos das greves e das tentativas de tomada do poder, de que
são exemplo os acontecimentos militares de 18 de Abril de 1925,
Teixeira Gomes sentindo, por um lado, que as forças republicanas
estão cada vez mais isoladas e desunidas, e, por outro, que não
dispõe de poderes para poder intervir no quadro legal imposto pela
Constituição, resigna do seu mandato, em 11 de Dezembro de
1925.
Em 17 de Dezembro, embarca no paquete grego Zeus, não regressando
mais em vida a Portugal.
ACTIVIDADE PÓS-PRESIDENCIAL
Em 1931, instalou-se em Bougie, na Argélia, onde viveu os seus
últimos dez anos. É desta localidade que continua a colaborar
com o jornal O Diabo e com a revista Seara Nova.
Morreu, como já foi referido, em 18 de Outubro de 1941, no quarto
número 13, do Hotel I'Étoile, e foi sepultado no cemitério
de Bougie.
Em 16 de Outubro de 1950, a pedido da família, os seus restos
mortais foram trasladados daquele último local, para o cemitério
de Portimão, transportados a bordo do contra torpedeiro Dão.
Durante a cerimónia fúnebre, o antigo Presidente da República
foi agraciado, a título póstumo, com a Grã-Cruz das
três Ordens Militares Portuguesas, a Legião de Honra e as
mais altas condecorações inglesas.
OBRAS PRINCIPAIS
Às obras já referidas há que acrescentar as escritas
no seu retiro argelino, Cartas a Columbano, de 1932, Novelas Eróticas
e Regressos, em 1935, Miscelânea, em 1937, e, por último Mana
Adelaide e Carnaval Literário, em 1938. Elas espelham bem
a ânsia de justiça e o desejo de espalhar benefícios
do autor, e noutra vertente, o seu gosto pela sensualidade e o reconhecimento
do direito à vida plena de cada ser humano, denunciando enfim, o
grande conteúdo humanista e estético que o caracterizava.